Como a Grécia, também treinada por um alemão, a equipa da Alemanha confirmou por inteiro, perante a pobre Inglaterra, que baseia a sua carreira em contra-ataques e em falhas dos adversários. Não dá para gostar, apesar da sua formidável organização nos ataques e da beleza de execução de homens como Friedrich, Lahm, Özil, Podolski e Klose.
Culpam os defesas centrais ingleses pela permissividade no incrível golo em dois toques (sendo o primeiro toque um pontapé de baliza muito longo) marcado por Klose, mas o verdadeiro culpado é o guarda-redes James, que em vez de agarrar a bola (dentro da área!) antes do atacante poder lá chegar, resolve recuar para a linha de baliza. Eu não queria acreditar quando vi (e revi) isso! Embora tenha tido boas intervenões durante o jogo, James selou o destino da Inglaterra.
Bem, apenas em parte. O também incrível árbitro Larrionda não validou o que devia ter sido o golo de empate dos ingleses, que iria coroar essa extraordinária característica dos bifes, que de orgulho ferido encontram forças no colectivo e vencem dificuldades imponderáveis.
Longa tradição que os faz cantar Rule Brittania... não foi assim por causa desta b*sta de árbitro, mas na verdade o uruguaio foi apenas a mão do destino.
Tudo remonta à escandalosa vitória em casa, no Mundial de 1966. Tal como o Béla Guttmann lançou uma maldição sobre o Benfica (válida até hoje), também alguém o fez à Inglaterra nessa altura: pela vitória vil contra Portugal, que tem sido vingada por várias vezes, e das maneiras mais espectaculares, sobretudo nos anos mais recentes; e pelo falso golo de Hurst contra a Alemanha, que bateu na trave sem entrar. Não acho coincidência que seja precisamente contra a Alemanha que os ingleses tenham visto ser-lhes negado um golo, parecidíssimo excepto por ser verdadeiro, que por certo teria dado outro rumo à história destes oitavos-de-final: a Inglaterra não teria arriscado tanto durante a segunda parte, e assim a Alemanha talvez não encontrasse tantas facilidades para marcar o terceiro e quarto golos.
Em todo o caso, um jogo emocionante. Apesar das limitações óbvias da Inglaterra, eu torcia por eles, não só para reeditar a guerra contra o Hitler, mas principalmente porque a Alemanha protagoniza aquele futebol desagradável de atacar pelas costas. Embora seja de grande beleza a série Klose-Özil-Müller-Podolski no segundo golo, algo que seria igualmente maravilhoso em qualquer selecção, o esquema geral de defender, defender, até haver ocasião para o contra-ataque, é de vaiar. Futebol destrutivo, essencialmente.
Mas com vulnerabilidades: honre-se o mérito da Inglaterra em revelar ao mundo muitas das debilidades desta defesa alemã. A selecção a aproveitar essas lições será (provavelmente) a Argentina. Valha-nos de novo a Argentina!
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