12 julho 2010

Polvo à espanhola

A final bem representou o que é hoje o futebol europeu: sarrafada, luta, muito esforço, luta, desespero, manipular o árbitro, luta, tanta luta, luta e mais luta. Sistemas defensivos que optam ou pelo domínio da bola (Espanha) ou pela acção-relâmpago (Holanda). Pouca beleza, só eficiência, em várias versões. Havia alturas em que a bola andava ao deus-dará como um jogo de solteiros e casados. Se ganhar é o que apenas conta, então o futebol torna-se uma batalha, não é um jogo. E deixa de dar prazer ver.

Esta Espanha recheada de catalães soube merecer o seu destino de campeã. O treinador mostrou com a Alemanha e com a Holanda que há maneiras de os anular, mesmo se isso representa um futebol sem alegria, sem brilho, mesmo sem nexo. É tudo um questão de ir tentando: primeiro aquela falha incrível de cabeça pelo Sérgio Ramos, depois o milagre da defesa de Casillas com a ponta do pé (talvez o verdadeiro momento de grande emoção nesta noite), depois finalmente a distracção mortal que deu ao Iniesta o momento da glória.

Voltámos ao tempo em que só por acaso não se tem de resolver um final aos penaltis. Como ontem calhou ser. E, para variar, onde realmente se jogou à bola e houve emoção, foi na discussão do 3º lugar entre a Alemanha e o Uruguai (ai, se aquela bola do Forlán mesmo ao cair do pano dá para o empate... bendita trave, não é? Ou o polvo a redimir-se?).

P.S. -- O Robben é verdadeiramente diabólico. Dá gosto vê-lo correr com a bola, e deixar o Puyol a rodopiar no chão. Portentoso.

04 julho 2010

Adeus Argentina

Não vi quase nada do jogo, mas vi as declarações do Maradona. Ele lembrou-nos que o espectáculo é o motivo realmente importante, que vai muito para lá dos resultados ou dos dinheiros, do futebol ter o apelo que tem.

A selecção alemã, inteiramente recrutada do campeonato alemão, recheada de grandes executantes, pratica um futebol onde importa marcar primeiro para obrigar os adversários a arriscarem, e depois, quase sempre em contra-ataque, marcar mais ainda. Marcam golos, mas o espectáculo é pobre. A Argentina (culpa do Maradona) não soube precaver-se.

Basta perguntar: onde é que houve emoção nos golos da Alemanha? Surpresa, muita, mas espectáculo, pouco. Muito mau.

Se a final for entre Alemanha e Holanda, então este campeonato do Mundo não valeu nada.

01 julho 2010

Eduardo

Apesar de eu preferir o Beto, de facto o Eduardo fez um grande jogo. A defesa que ele fez ao remate rasteiro do Sérgio Ramos é concerteza das mais difíceis que se terá visto em todo este Mundial.

30 junho 2010

Novas esperanças

Espero que o bléfe acabe de vez. O Professor Queirós mostrou que não sabe dirigir uma equipa em campo, a FPF que faz da nossa equipa um Brasil-B, e quanto ao ranking da FIFA que nos coloca(va) em terceiro, que é uma treta.
Insisto: não foi por nos faltar o Nani que esta triste realidade finalmente veio ao de cima, mas vou dizendo que, se calhar, estando ele em campo talvez ela fosse sendo mascarada mais um ou dois jogos; mas contra tamanhos desvarios não há talento que resista, à medida que o título se aproxima.
É o sistema que impera na selecção, descaracterizando os jogadores com uma maneira de jogar que não a que vemos nos seus clubes; interesses obscuros que conduzem infalivelmente ao insucesso, ou seja os tais negócios, achando que as vitórias estão garantidas. Os jogadores é que sabem (que elas não estão). Veja-se como o Cristiano jogou, para ver-se como tudo anda(va) do avesso nesta equipa.
Depois de 2000 nunca mais a selecção pôde ser o que realmente devia ser. Mesmo durante, pois aquela meia-final com a França... Está provado, de vezes anteriores, que não é pelos jogadores que passa a solução. Não têm poder. Só o de deixarem de estar disponíveis, como corajosamente fizeram em 2000 o Paulo Bento e o Pedro Barbosa (e talvez outros, não me recordo bem). Espero que o público português, em Portugal como lá fora, saiba ver esta raiz do mal, para que as coisas finalmente mudem.
Mas não pode deixar de pensar-se, com imensa pena, numa geração de jogadores talentosos (Simão Sabrosa, Ricardo Carvalho, Maniche, Fernando Meira, Miguel, mesmo o Tiago) para quem já pode ser tarde demais. Até para o próximo europeu. Mereciam melhor sorte, e o nosso jeito particular de jogar à bola também.

29 junho 2010

O terror dos espanhóis

Perder com Portugal até não é pior, do que eles têm realmente medo é do tratamento que levaram os norte-coreanos. Isso é que ficaria para a História. Aljubarrota vive! Mas só em sonhos, isto cá para mim...

27 junho 2010

A nova Grécia

Como a Grécia, também treinada por um alemão, a equipa da Alemanha confirmou por inteiro, perante a pobre Inglaterra, que baseia a sua carreira em contra-ataques e em falhas dos adversários. Não dá para gostar, apesar da sua formidável organização nos ataques e da beleza de execução de homens como Friedrich, Lahm, Özil, Podolski e Klose.
Culpam os defesas centrais ingleses pela permissividade no incrível golo em dois toques (sendo o primeiro toque um pontapé de baliza muito longo) marcado por Klose, mas o verdadeiro culpado é o guarda-redes James, que em vez de agarrar a bola (dentro da área!) antes do atacante poder lá chegar, resolve recuar para a linha de baliza. Eu não queria acreditar quando vi (e revi) isso! Embora tenha tido boas intervenões durante o jogo, James selou o destino da Inglaterra.
Bem, apenas em parte. O também incrível árbitro Larrionda não validou o que devia ter sido o golo de empate dos ingleses, que iria coroar essa extraordinária característica dos bifes, que de orgulho ferido encontram forças no colectivo e vencem dificuldades imponderáveis.
Longa tradição que os faz cantar Rule Brittania... não foi assim por causa desta b*sta de árbitro, mas na verdade o uruguaio foi apenas a mão do destino.
Tudo remonta à escandalosa vitória em casa, no Mundial de 1966. Tal como o Béla Guttmann lançou uma maldição sobre o Benfica (válida até hoje), também alguém o fez à Inglaterra nessa altura: pela vitória vil contra Portugal, que tem sido vingada por várias vezes, e das maneiras mais espectaculares, sobretudo nos anos mais recentes; e pelo falso golo de Hurst contra a Alemanha, que bateu na trave sem entrar. Não acho coincidência que seja precisamente contra a Alemanha que os ingleses tenham visto ser-lhes negado um golo, parecidíssimo excepto por ser verdadeiro, que por certo teria dado outro rumo à história destes oitavos-de-final: a Inglaterra não teria arriscado tanto durante a segunda parte, e assim a Alemanha talvez não encontrasse tantas facilidades para marcar o terceiro e quarto golos.
Em todo o caso, um jogo emocionante. Apesar das limitações óbvias da Inglaterra, eu torcia por eles, não só para reeditar a guerra contra o Hitler, mas principalmente porque a Alemanha protagoniza aquele futebol desagradável de atacar pelas costas. Embora seja de grande beleza a série Klose-Özil-Müller-Podolski no segundo golo, algo que seria igualmente maravilhoso em qualquer selecção, o esquema geral de defender, defender, até haver ocasião para o contra-ataque, é de vaiar. Futebol destrutivo, essencialmente.
Mas com vulnerabilidades: honre-se o mérito da Inglaterra em revelar ao mundo muitas das debilidades desta defesa alemã. A selecção a aproveitar essas lições será (provavelmente) a Argentina. Valha-nos de novo a Argentina!

25 junho 2010

Jogo-treino

Como era de esperar, o jogo de Portugal com o Brasil foi para cumprir calendário. Se alguém se lembrasse de marcar um golo, então talvez jogassem a sério. Mas assim, zero-a-zero, foi tudo morno e sabe-se lá se estavam mais a apontar para fora da baliza. Certo é que, na selecção brasileira, os principais argumentos não estavam! OK, mesmo sem Robinho, Kaká e Elano, o Brasil continua a ser uma selecção de alto coturno, mas se voltarmos a defrontá-los mais à frente neste campeonato, em toda a força e sem ser a feijões (o que será muito bom sinal), neste jogo ficámos na mesma sobre as verdadeiras capacidades desta selecção orientada por Carlos Queirós.
Isto deixa-me, como adepto da selecção portuguesa, baralhado. Os sete-a-zero à Coreia do Norte não contam para grande coisa no meio deste apuramento. No fundo, ainda nada foi a doer. Mesmo sabendo que os intervenientes são bons profissionais e experimentados, cabe a dúvida sobre serem capazes de vencer adversidades, do estilo da que aconteceu na Inglaterra 66 contra a Coreia do Norte, também em jogo de tudo-ou-nada. Aquelas adversidades onde não é só de técnica, nem manha, nem simples vontade, que se constrói uma reviravolta: é a capacidade colectiva de transcenderem-se. Aquilo que Mourinho transmite como (muito) poucos. Sinceramente, com o Queirós parecem demasiado "pequenos" para ambicionarem chegar a isso.
Individualmente: Eduardo é seguro, mas pessoalmente acho o Beto melhor; Fábio Coentrão tem tido a felicidade de não ser marcado e isso torna-o espectacular, mas atenção que ele nunca desiludiu e ainda antes de estar no Benfica já tinha magia nos pés; os dois centrais (Ricardo Carvalho e Bruno Alves) são estupendos e entendem-se muito bem; para a direita, é óbvio que Miguel será a melhor escolha; Meireles, Miguel Veloso e Danny, não esquecendo outros talentos de meio-campo, ajudam imenso a criatividade do Cristiano e Simão; e Hugo Almeida está perfeitamente à altura, havendo sempre como alternativa a irrequietude do Liedson. No lado negativo, Pepe. Os brasileiros trataram-no como se faz a um traidor, ele não tem ritmo nem autodisciplina, é quezilento e compromete a equipa. Espero que não volte a sair do banco (o mesmo se aplica, com mais ou menos nuances, ao Deco). Se precisarem dum bom central de substituição têm o Rolando para fazer o lugar.

24 junho 2010

Itália fora

A selecção italiana saiu também em completa desglória. 'Tá bem, sem as barracadas da França, mas à mesma tristemente (em último no grupo!).
Para mim, uma das responsabilidades disso é a descaracterização daquilo que se conhece como futebol italiano, pois o Calcio está dominado por estrelas sul-americanas e cisalpinas (Mourinho incluído). Não se põe em dúvida o talento individual dos seleccionados, está mais em causa a fraca coesão entre eles. E não venham com desculpas de falta de Pirlo ou Buffon, a Itália nunca dependeu, enquanto selecção, de protagonistas.

23 junho 2010

Gana

Discretamente, mas com o palmarés já do mundial de 2006, a selecção do Gana mostra mais uma vez que é esta o grande intérprete da "esperança africana" no futuro do futebol. Melhor que a selecção anfitriã, que tem o triste recorde de ser a primeira nessa condição a não passar da fase de grupos (mas a FIFA queria o quê? Já não lhes bastou as ajudas à Coreia do Sul em 2002?), melhor que as selecções "estreladas" da Costa do Marfim e dos Camarões, é nesta inteligente e muito coesa selecção do Gana que vemos a mistura de espontaneidade e eficiência que traduz em sucessos a dita esperança. Que o diga a Alemanha (embora desfalcada de Klose), que se viu e desejou para marcar um único golo ao Gana. E note-se que a derrota com a Sérvia obrigava-os a fazer pela vida!
Força Ghana!

22 junho 2010

Valha-nos a Argentina

A Grécia, selecção que mais tem demonstrado como o crime do jogo traiçoeiro compensa (mas não está sozinha nisso, lembre-se a Alemanha contra Portugal), saiu de rabo entre as pernas deste mundial. Perante a Argentina demonstrou-se que a estratégia de Otto Rehagel funciona tanto melhor quanto mais talentosa seja a equipa adversária. Que ironia...
Mas mesmo assim, o grande talento desta Argentina está para lá dos mais remotos sonhos do seleccionador da Grécia. E fica o registo de ter sido com Di María em campo que os golos foram marcados.

Sete partidas

Demos 7, o nosso 7 quebrou o jejum, com a final (ou 3º/4º) são 7 partidas. Mas para chegarmos aí, falta muito, sobretudo falta consistência.

Estou longe de eufórico com o que aconteceu ontem: afinal na primeira parte só a custo marcámos 1 golo, e o descalabro norte-coreano na segunda parte tem mais a ver com desorientação que outra coisa. Aliás, os norte-coreanos são melhores que a Costa do Marfim e vão tranquilizar-nos ainda mais, quando lhes ganharem na sexta-feira.

Por isso talvez não precisemos de dar muito contra o Brasil, nem o Brasil contra nós, na sexta o nosso encontro vai ser mesmo a feijões. Que seja para virmos a reencontrar-nos na final!!

Só que aí é que vou ter medo de ver alinharem brasileiros na nossa equipa. Na sexta, à vontade, mas mais à frente...


Voltando: grande estilo no nosso segundo golo, feito pelo Simão Sabrosa com uma calma fora de série. Às vezes conta tanto o facto de ser golo como a maneira como é feito. Até para quebrar o ânimo dos adversários.

18 junho 2010

Ódios de estimação

Ontem vimos a Grécia e a França a levarem na vuv... na corneta. Sabe tão bem! Aquela cara de chateado do Otto Rehagel não tem preço, mas já quanto aos franceses, fica-se perplexo. Perderam com o México, provando do próprio veneno de sofrerem um penalti inventado (ai, estes árbitros...), mas se o México não é uma equipa qualquer, que cobre os espaços com muita eficiência, a vulgaridade desta equipa da França mete dó. É que, mesmo com batota, más-criações e "marradinhas", os tempos do Zidane recordam-se com nostalgia (a mestria com que o próprio Zidane serviu Henry para aquele golo que arrumou com o Brasil em 2006 é inesquecível). O que agora fica são restos. Ainda por cima desavindos, segundo se diz.

17 junho 2010

Queiroz, o mal-amado

Tudo o que corre mal na selecção portuguesa tem de ser culpa do treinador. Deste treinador. É o passatempo de Portugal, atirarem-se ao professor. Só o facto de sê-lo já ajuda — sintomático.
Mas ele também põe na fogueira umas achas, a termideira com a selecção tem sido demasiado violenta cá para os nossos calores... Pode ser que haja uma estratégia de "esconder o jogo" para mostrar as garras só na altura-chave; mas duvida-se da sua eficácia, e não deixa de recear-se que fiquemos pelo caminho, sem chegarmos à tal altura-chave. É brincar com o fogo: quem se mete a fazer muitas fintas acaba por perder a bola.

16 junho 2010

Adoro a Vuvuzela

Desde o México '86 (la ola) que não se inventava uma tão radical manifestação colectiva do público. Se a princípio a vuvuzela se adivinhava irritante (mais por culpa de vizinhos por cá desenfreados, e também pelo som mais a parecer um burro a zurrar), quando se assiste aos jogos ouvimos aquele zumbido, como o de um enxame, que dá um pano de fundo fantástico. Fenomenal. Um marco histórico, tão, tão africano...
(e que bom ver que a equipa francesa se irrita com isso, hehehe)

13 junho 2010

Começos modestos

Um primeiro dia morno, debaixo da deprimente chifrineira das cornetas. Não sei o que foi pior: as equipas de futebol ou as equipas de arbitragem. Tudo muito fraquinho.

A continuação denota falta de entrosamento de quase todas as selecções. É sempre assim, por isso até pode ser que se "criem" grandes selecções durante este Mundial. Já sobre as equipas de arbitragem não estou tão confiante, ao menos que não estraguem. A tradição diz que estragam, e às vezes cá duma maneira...

Quanto a Portugal, 1-1: Drogba vs. Nani. Duas falhas que empobrecem o jogo inaugural. O fantástico Nani faz imensa falta, não tanto pelas hipóteses de irmos ganhando jogo a jogo, mas pela beleza do seu futebol. Isso não tem substituição possível.

Chamam-lhes navegadores, eu chamo-lhes (até prova em contrário) molengões. Pelo menos foi essa a impressão que ficou da muito pobre exibição frente a Moçambique.